CRÍTICOS DE ARTE
 
 
  • Aquarelando orixás

    A aquarela digna desse nome trabalha com transparências e passagens de cor num exercício constante de sugestões. Eventuais figurações ficam em segundo plano perante o talento de construir uma poética pautada pela maneira de ocupação do espaço, num exercício que exige dedicação e aprendizado constante.

    Ieda Helal se vale justamente de apurada técnica para construir sua série sobre orixás da cultura afro-brasileira. Cada entidade é transformada em imagem por uma articulação visual que soma à aquarela elementos de poderoso valor estético como folhas de ouro e de prata.

    O que mais chama a atenção na observação dos trabalhos é a maneira como eles articulam informações para construir a composição. A sugestão de objetos e formas comanda o diálogo entre mitos e personagens numa conjugação de forças espirituais e plásticas.

    Um aspecto a ser ressaltado é a maneira como a artista geralmente utiliza o centro do quadro. Existe a tendência de criar estruturas em que os vazios e cheios de tinta estabelecem elos entre o manifesto e o apenas sugerido. Nesse sentido, a valorização do branco do papel contribui para enriquecer cada obra.

    O maior mérito do conjunto está na habilidade de Ieda Helal de fugir do óbvio, que seria uma representação figurativa dos orixás ou a construção de um mero jogo de sensações e abstrações. Ela consegue, com extrema delicadeza, oferecer pistas sobre as divindades representadas, manuseando a aquarela com propriedade e sensibilidade.

    Oscar D’Ambrosio, jornalista e mestre em Artes Visuais pela Unesp, integra a Associação Internacional de Críticos de Artes (AICA-Seção Brasil).


  • A artista


  • O caminho da água e sua fluidez com o papel é o resultado que Ieda busca para sua melhor expressão. Através da água, a artista conecta em seus trabalhos o espiritual e o material.

    Na série de 17 obras que representam cada um dos orixás mais conhecidos no Brasil, entidades que povoam o imaginário nacional como Oxalá, Yemanjá, Iansã, entre outros, a artista realizou um trabalho extremamente colorido, com forte presença simbólica e, ao mesmo tempo, cheio de passagens sutis de cores, técnica que a aquarela lhe permite executar.

    Mesmo pintando temas inspirados em religiões afro-brasileiras, Ieda Helal parece filtrar as imagens através das tramas secretas da saudade, ou de uma melancolia serena entremeada de esperança, mas em uma dimensão de profundo lirismo.

    A aparente fragilidade de certas aquarelas, de feitura bem aguada, mas de cores envolventes e significativas, reúnem, em si mesmas, o vigor de um excelente nível técnico. A visão de espaço, a surpreendente segurança da pincelada e a límpida transparência da cor alcançam o objetivo de aliviar a matéria do quanto eventualmente ela reúne de mais forte.

    Emmanuel Massarani – Curador do Depto. De Cultura da Assembléia Legislativa de São Paulo.


  • Mandalas


  • A palavra mandala vem do sânscrito, sendo, portanto, de origem oriental, caso não se leve em conta que a tradição brâmane remonta possivelmente a origens druídicas. As mandalas encontram-se igualmente nas raízes de todas as culturas e em todo ser humano. Foi C. G. Jung quem, nos tempos modernos, ocupou-se com as mandalas e descobriu que elas surgem como imagens interiores, espontâneas, particularmente em situações críticas de caos íntimo e são, por assim dizer, um diálogo entre a alma (microcosmo) e o mundo (macrocosmo). Na realidade, segundo a máxima de Hermes Trimegisto (“assim em cima como embaixo”), estamos à espera dessa concordância entre microcosmo e macrocosmo.


  • Ieda Helal


    Círculos sagrados


    Realizadas em tinta acrílica, as mandalas da artista plástica Ieda Helal partem do próprio sentido do termo, que significa “círculo”, para propiciar uma jornada interior em cada observador. Nesse aspecto, cada figura, construída com diversos fundos e várias experimentações de cor, oferece, por meio de uma representação plástica, um retorno do indivíduo a uma unidade primordial.

    A mandala é um espaço sagrado e, dessa forma, cada trabalho apresentado traz em si um ciclo. Símbolos orientais, ligados ao masculino e ao feminino, além de gradações cromáticas que incluem o lilás e o ocre, por exemplo, relacionam elementos muito importantes na história da humanidade como o fogo, as flores e as folhas.

    Cada mandala estabelece conversas interiores e ainda se relaciona com as outras, num processo em que a circularidade é fundamental como forma de conhecimento das possibilidades e das limitações na relação com si mesmo, com os outros e com o universo. Ieda Helal trabalha as mandalas com seu repertório plástico. Isso significa caminhos amplos para a criação e a formação de mundos nos quais as imagens transmitem o poder de criação e de renovação do poder divino que se manifesta por intermédio das figuras circulares.

    Contemplar uma mandala é um exercício de concentração que permite atingir níveis que estão além do artístico propriamente dito. A profusão de cores e de gestos encontra paralelos nos signos do zodíaco, nos humores e em diversas simbologias, fortemente ligadas à cultura da Índia. Os círculos sagrados que Ieda Helal apresenta estão dentro de cada indivíduo. Há, neles, pedaços de nós mesmos, com os quais nos identificamos e dialogamos num jogo multifacetado de encontros, desencontros, interrogações e respostas. Nesse jogo de buscas, cada mandala constitui um fascinante universo isolado e, ao mesmo tempo, integrado ao mundo.

    Oscar D’Ambrosio, jornalista e mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp, integra a Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA- Seção Brasil).


  • Mandalas de Ieda Helal


    Passar da aquarela ao acrílico e da água à resina sintética é um pulo. Uma transformação do olhar e, ainda mais, de entender, ou seja, fazer a pintura.

    O trabalho que Ieda Helal nos presenteia, nesta série, marca sua transformação em uma pintora. Trabalho da matéria pura: camadas, tintas, empastos e veladuras que constroem o universo do artista pintor, que, hoje, de tão imerso em diversas linguagens artísticas, pode acabar se confundindo e deixar de fazer pintura.

    Não é o que sucede com Ieda em suas acrílicas. A passagem que a artista percorreu encontra abrigo e correspondência na cultura hindu, da qual vem a inspiração dessas pinturas, e percorre o arco duplo de significados das raízes sânscritas da palavra mandala.

    O trabalho de aquarela com a água se faz no campo dos fluxos. Acessar a não-forma, o não-fixo. O trabalho de pintura com a resina se faz no campo do fixo. Aceder à forma, ao sinal.

    A primeira etimologia da raiz sânscrita mand - alcatroado, coberto com petróleo – refere-se a algo viscoso, lento e pesado. Qualidades comuns à resina acrílica, também derivada do mesmo petróleo. A segunda raiz refere-se à alegre, à leve, tal como a aquarela, límpida e luminosa.

    Ieda Helal sai da água e vai para a terra sem perder as qualidades de flexão e luminosidade que caracterizam sua aquarela. E renasce bem.

    Carlos Zibel Costa (17 de outubro de 2007)
    Prof. Doutor, orientador de projetos FAU – USP
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